Hoje comecei a ler o livro "cem anos de solidão" de Gabriel Garcia Marquez e tenho a pesada impressão (para não dizer leve ou ligeira, que isso pra mim soa como algo bem superficial) de que serei tocada por esse autor.
Na edição que estou lendo, a história mesmo só começa a partir da página 40. O livro inicia com o discurso do escritor quando foi receber o prêmio Nobel de literatura; na sequência o tradutor fala sobre o Gabo (o escritor que ele não conhecia), o Garcia Marquez (aquele que o mundo conhece), e Gabito (como os colombianos costumam chamar) , sem contradições, nem julgamentos, vou tendo a visão do homem que se materializou igual a qualquer ser comum, mas que se imortalizou pela palavra - e que palavras - como todos os grandes escritores.
Vejo como nasce uma estrela, na maneira recôndita que Gabito tem de se mostrar enquanto gente, no modo como é explosivo em sentimento, sem talvez nem perceber, ou mesmo querer. Encontro-me nas curvas de sua história, dessa história que o tradutor relata suscintamente, apontando o homem que se esquiva dos holofotes, da miséria da fama, que busca a vida que se perde quando todos os olhares o seguem. Este homem que estima o entrelaçamento entre três temas, cujo enlace parece impossível e ao mesmo tempo é tão natural : O amor, o poder e a solidão...
Amante da leitura do mundo, patriota, político, escritor e amigo, são características que atribuo ao meu já querido Gabito. Sobretudo o amigo. Vejam o quanto ele esperto ao dizer que para ele a lei fundamental que rege o universo é que " de uma lado estamos eu e meus amigos; de outro, o resto do mundo, com o qual meu contato é pouco". Eu chego a querer questionar esse pensamento, mas logo sou resgatada de volta à revelação: de que nenhum universo existe para além da amizade, das pessoas que constituem nosso mundo. Sendo assim, não existe outro mundo ou se existir, contato nenhum se faz necessário. Acredito que nem consideramos a existência desse lugar.
Ele crê em fantasmas!! Parece, mas para mim nem é assustador, por que nessa crença ele também busca admitir sua existencia humana - tem medo de dormir sozinho em casa. Embora sejam fantasmas amigos, pois o fazem querer estar sempre com sua Mercedes, sua mulher, a quem cabia lhe proteger "contra todos os fantasmas e medos da vida"
O "Cem anos de solidão" não poderia entrar na minha vida, antes de me permitir conhecer esse escritor pelas portas de uma apresentação que foi sintetizada em seu discurso, e sua a defesa contra o reconhecimento supérfluo, fluido, e seu amor pela poesia. Desse jeito vi nascer uma estrela, uma estrela solitária porque ama a solidão. E atrevo-me a chamá-lo de Gabito, porque desejo ser sua conterrânea, de um modo que vai além da questão territorial.